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Foi nesse momento que desejei ter explorado mais jogos do que The Sims, Mario Bros, Sonic, Just Dance, Guitar Hero, Nintendogs, Cooking Mama e Fat Princess. Talvez se eu tivesse nascido no sexo masculino meus pais tivessem me apresentado a outros jogos, mas isso é uma outra discussão. Ainda dá tempo de correr atrás!

A segunda palestra teve como tema “introdução aos games”, com o professor Leonardo Cardarelli e o RPG. Logo de primeira, eles explicaram que existem dois tipos de jogos: analógicos e digitais; mas, perguntaram o que tem em comum entre ambos. Os meus colegas de sala até levantaram a mão e tentaram acertar, mas a resposta era bem mais simples: paixão. Por trás de tudo, o grupo RPG (Rio PUC Games) se dedica da melhor maneira que puderam encontrar para fazer o que gostam. Eles contaram da dificuldade de formação e consolidação do grupo, pois são administrados por eles mesmo, tendo Cardarelli apenas como mentor. Apesar de não ser totalmente ligada no mundo dos games, gostei de conhecer e ver que o grupo está dando certo, cheios de vontade e paixão. É um espaço inteiramente independente, que mostra o poder do movimento estudantil e acho isso inspirador.

Pensando sobre o pouco que conheço sobre o assunto, comecei a me questionar: games são arte? E na minha opinião, sim, então decidi começar minha pesquisa por aí. Encontrei que existe um jogo chamado "Dandara", criado recentemente por dois mineiros e já lançado para PlayStation 4, Xbox One, PCs, Android, iOS e Switc, que traz referências à cultura nacional, como uma personagem inspirada na obra 'Abaporu', de Tarsila do Amaral. “É um game do gênero "Metroidvania", em que o progresso pelas diferentes áreas do mapa do jogo depende da descoberta de novas habilidades.” Além disso, “a protagonista do game leva o nome de Dandara por conta de Dandara dos Palmares, heroína que lutou ao lado de Zumbi dos Palmares, no Brasil colonial, contra a escravidão dos negros.”

Para os criadores, a ideia da personagem não foi fazer uma crítica, mas tentar fugir principalmente das ideias comuns americanas ou japonesas nos jogos; numa história de luta pela liberdade, ela sobreviveu, inspirando e reforçando o significado do game. Ainda sobre sair da mesmice, eles acreditam que "é importante pro mercado brasileiro criar um estranhismo ao recriar do zero as nossas ideias e fazer jogos que tenham a nossa cara. Isso aumenta a possibilidade do jogador se identificar e perceber o que outros brasileiros já fizeram". Do meu ponto de vista, o fato de ser uma heroína negra que tem a missão de libertar seu povo escravizado por um exército opressor, é uma crítica muito importante por quebrar padrões e tratar de uma realidade que ainda existe no nosso país.

Felizmente, Dandara está tendo um bom resultado de vendas e isso já está incentivando a possibilidade de investimento estatal aos vídeo games, pois não basta apenas investir no desenvolvimento do jogo; tem que fazer com que seja difundido principalmente pelo público brasileiro. Ainda existe o estereótipo na nossa sociedade de que jogos sejam infantis, apenas com uma forma de entreter e que pode fazer uma pessoa ser violenta, então acho que é importante que jogos como esse sejam mais divulgados. “Jogo é cultura. É um filme em que é possível interagir, tomar decisões, mudar o rumo da história e essa construção envolve vários artistas, desde o roteirista que escreve, a arte gráfica conceitual, os músicos que dão a contribuição deles nas trilhas sonoras, além dos dubladores, que são atores e interpretam. Até pouco tempo atrás, ninguém via o game como cultura, mas o jogo transforma, marca a vida de uma pessoa e cria referências”, defende o presidente da Associação Mineira de Jogos (Gaming).

Por essa mesma linha de pensamento, outro jogo brasileiro engajado socialmente foi lançado em 2014, no dia de aniversário de 126 anos da Lei Áurea. O Flux Game Studio lançou o jogo “Escravo, Nem Pensar!”, em parceria com a ONG Repórter Brasil. A organização não governamental apura casos de trabalhos equivalentes aos de escravidão e foi fundada em 2001 por um grupo de jornalistas. Essa não é a primeira tentativa deles de fazer um jogo voltado para causas sociais: lançaram o “V de Vinagre” em 2013, no auge dos protestos pela redução do preço das passagens de transporte público em todo Brasil.

O objetivo principal desse game é de ampliar e conscientizar sobre o tema para o público jovem, especialmente pra quem frequenta escolas. Para os desenvolvedores, jogos engajados são educativos por alinharem um conteúdo tão complexo, detalhado e às vezes pesado. No caso do “Escravo, Nem Pensar!”, foi considerado um “entretenimento pedagógico” e um meio de informação para estudantes em formação.

Ainda existe o estereótipo na nossa sociedade de que jogos sejam infantis, apenas como forma de entreter e que pode fazer uma pessoa ser violenta, então acho que é importante que jogos como esse sejam mais divulgados. O desenvolvedor Paulo Luis Santos, tem uma visão bastante ampla: ele acredita que os games já estão em qualquer lugar, sendo usados como ferramenta e vê suas aplicações crescendo muito em diversos nichos. Portanto, é um sinal positivo para o crescimento dessa indústria no Brasil.

MUITO ALÉM DE “THE SIMS”
Referências bibliográficas:

G1, Conheça 'Dandara', game com Tarsila do Amaral, Brasil colonial e uma nova ideia para o gênero de 'Metroid'. Disponível em: < https://g1.globo.com/pop-arte/games/noticia/conheca-dandara-game-com-tarsila-do-amaral-brasil-colonial-e-uma-nova-ideia-para-o-genero-de-metroid.ghtml >. Acesso em 8 de maio de 2018.
Uai, Brasil dá os primeiros passos para consolidar o incentivo estatal aos video games. Disponível em: < https://www.uai.com.br/app/noticia/games/2018/05/08/noticias-games,226834/brasil-da-os-primeiros-passos-para-consolidar-o-incentivo-aos-games.shtml >. Acesso em 8 de maio de 2018.
TechTudo, 'Jogos podem ser pedagógicos', diz coordenadora da ONG Repórter Brasil. Disponível em: < http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2014/05/jogos-podem-ser-pedagogicos-diz-coordenadora-da-ong-reporter-brasil.html >. Acesso em 8 de maio de 2018.